sábado, 28 de novembro de 2009

ponto de vista.

revistas de publicação científica funcionam como um termômetro para avaliar se certa doença ou condição está sendo muito ou pouco pesquisada.
geralmente essas revistas tem um nome beem extenso e chato tipo European Early Childhood Education Research Journal.
quando o nome do periódico é simples e conciso, já da pra ver que é um assunto que está em alta. é o caso de Stroke, Pain, Cancer e Epilepsia.

epilepsia?

imagine seu filho pequeno, se desenvolvendo normalmente. de repente, do nada, ele convulsiona aos 4 anos. e não para mais.
além de não continuar o desenvolvimento psicomotor, ele ainda "desaprende" coisas que já sabia, como andar, falar, e até deglutir.
ele tem síndrome de Lennox Gastaut, uma síndrome epiléptica da infância.
o eletrocefalograma é desesperador: as ondas elétricas no cérebro são completamente descoordenadas e ininterruptas. é como se o cérebro do seu filho entrasse em curto-circuito e daí ele não consegue mais armazenar nenhuma informação. um estado de convulsion-non-stop.
e ele já está com 10 anos.

a mãe do paciente diz que tem outra filha pequena. eu pergunto se ela se dá bem com o irmão. rindo, a mãe diz que sim, mas que a filha é arteira demais perto do irmão. ele fica tranquilão vendo tv e ela não para quieta.

me lembro que o irmão não faz absolutamente nada sozinho, nem engolir a própria saliva. é lógico que ele não vai ser "arteiro".

e é lógico que eu guardei essa conclusão pra mim.

domingo, 22 de novembro de 2009

painkillers

Daul Kim, modelo sul coreana de 20 anos, foi encontrada morta no apartamento em que vivia em Paris, semana passada. provavelmente, suicídio.

o que leva uma pessoa a fazer isso tem sido motivo de discussões por todo o mundo.
creio que existam dois tipos de suicidas: os que planejam em todos os detalhes. e os que assumem comportamentos inconsequentes, pois morrer ou viver tanto faz.
não sei de que tipo Daul Kim foi.

Mais quando uma paciente de 40 anos do grupo de dor, resolve tomar de uma vez todos os analgésicos opióides que a equipe tinha prescrito e que deveriam durar uma semana, e é levada as pressas ao pronto socorro pra fazer uma lavagem estomacal a gente pensa que ela é do segundo grupo.
se fosse do primeiro teria tomado os remédios com vodca.

mas eu acho que esse segundo grupo... o grupo do tanto faz, é pior do que o grupo dos decididos.
porque a gente nunca vai saber quando eles podem tentar denovo.
e no caso dessa paciente, cuja a dor só piorou com uma sequência de erros médicos, não importa o que a gente diga.
se a crise de dor vier, ela vai tentar denovo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

HCFMUSP - pacientes.

quando a gente pensa no HC (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), as primeiras palavras/conceitos/imagens que vem as nossas cabeças são referência, modelo, maiorhospitaldaamericalatina.

já disse aqui no blog que sou sortuda em não ter que conviver com hospitais durante minha infância. também sou sortuda, por nunca ter tido que depender do sistema público para ter acesso a tratamentos medicos.
assim, sempre que eu pensava em HC, eram aquelas palavras que pipocavam na minha mente.

só que a gente esquece que o HC funciona via SUS. o sistema é falho, e não da conta de sua própria demanda. e isso se reflete no HC.

choquei quando entre no Prédio dos Ambulatórios pela primeira vez. filas enoooooooormes de pacientes na porta das salas, espalhadas pelos corredores e até na farmácia (a oftalmo tem até um microfone para chamar os pacientes sem ter que ficar se esguelando de gritar) e pacientes em macas no meio dos corredores.
a mesma coisa no PSC (Pronto Socorro Central). macas e mais macas enfileiradinhas nos corredores. o cheiro, de acordo com a seguinte equação:

(fluidos/secreções/excreções humanas diversas + sopa de mandioquinha) x horário do dia.

poor rich girl.

domingo, 8 de novembro de 2009

estimando.

na faculdade, ja ouvi de um professor de prótese:

"não tentem estimar quantos anos o seu paciente vai viver. não é pq ele tem 80 anos que vc vai fazer uma prótese meia boca ou vai oferecer pra ele um tratamento com um tempo de vida útil menor. - ah, daqui a pouco ele morre mesmo- não é assim que funciona."
(acho q foi o Tarcísio em alguma aula de prótese no segundo ano)

mais uma vez, amublatorio de pediatria na odonto do hc. paciente com hidrocefalia. o líquido do cérebro não é drenado da maneira adequada e fica acumulando na cabeça do paciente, aumentando a pressão intracraniana, fazendo com que a cabeça cresca mais do que deveria, causando retardo mental, atraso de crescimento e desenvolvimento global.
um modo de tentar estabilizar a pressão em níveis normais é fazendo a instalação de uma válvula que drena o excesso de líquido, melhorando um pouco a condição do paciente como um todo.

geralmente, esses pacientes têm o diâmetro da cabeça aumentado... entretanto o daquela paciente estava aumentado demais.

"ela usa válvula?" a assitente responsável perguntou a mãe, desconfiada.
"não... quando ela nasceu o médico disse que ela só ia viver dois anos e que num valia a pena colocar" a mãe respondeu.
"quantos anos ela tem hoje?" me arrisquei a perguntar.
"dezenove".

domingo, 1 de novembro de 2009

the weight of my words.

é fantástico como uma mesma frase pode ser utilizada em situações completamente diferentes.

olhem só o exemplo de um garoto que atendi com uma r2 a algumas semanas...
7 anos, deficiencia mental leve, histórico de agressão sexual (contra ele) na creche a 4 meses.

o garotinho entrou na sala chorando e perguntando a mãe se ela ainda o amava.
não foi contra o tratamento (que era só uma limpeza e flúor), mas chorou o tempo todo.
frente a essa situação, a r2 disse o que 100% dos dentistas falariam pra 100% dos seus pacientes pediatricos.
"calma...ja tá acabando, meu querido!"
o grito chorado que o garoto deu foi quase que instantâneo. doeu nas minhas entranhas.

no fim, mais um furo, agora meu:
"viu como foi rapidinho??!

mais um grito.

odeio imaginar as lembranças que eu trouxe a tona na cabeça dele.