terça-feira, 20 de outubro de 2009

segredos.

ambulatório de pediatria.
pego o prontuário do próximo paciente. é uma garota de 13 anos, HIV positivo, transmissão vertical (transmitido de mãe para filho).
vou até a sala de espera e chamo pelo nome. a mãe vem logo atrás. eu indico o consultorio 7 pra paciente, a mãe segura meu braço e me para no meio do corredor enquanto a paciente se dirige ao consultorio, se distanciando de nós.
"doutora, por favor... não comente nada sobre a doença dela..."
"o HIV?" pergunto, achando que a mãe se referia a alguma outra coisa.
"sim. ela ainda não sabe por que ela trata no instituto da criança e nem pra que são os remédios que ela toma... ainda não consegui contar. por favor, não diga nada."

foi a primeira vez que ouvi um pedido de mãe tão sério assim. (de uma mãe que não fosse a minha).

atendo a paciente com o peito apertado e a cabeça a mil.
como será quando a mãe contar?
como será quando a filha souber?
os laços podem se estreitar como nunca mas também podem se afrouxar pra sempre.

encerro a discussão em minha cabeça com apenas uma certeza: a mãe tem que contar antes que a filha inicie a tal da "vida sexual".

...mas o peito... hm, o peito continua apertado.

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